ACLAMAÇÃO INGLESA E UM CAMINHO PAVIMENTADO

 

  Inglaterra e Alemanha são dois países que se colocam em lados opostos historicamente. Seja em questão de guerras, em formas de governo e até em preocupações econômicas, os dois lados não partilham especificamente das mesmas ideias. E, como não poderia ser diferente, no futebol também é assim, e dois exemplos são canônicos: o primeiro título mundial inglês, conquistado de forma polêmica sobre os alemães em 66, e a impiedosa goleada da Alemanha sobre o English Team nas oitavas da Copa de 2010, de novo com polêmica, mas agora contra os britânicos. E hoje foi o tira-teima, o dia em que a Inglaterra pôde triunfar e mandar os rivais de volta pra casa. Fazer isso dentro do histórico Estádio de Wembley foi o cenário perfeito para a vitória.

    As duas equipes fizeram um jogo de boa qualidade técnica, com pressão e muita tensão, principalmente no segundo tempo. Claro que o nível de emoção não chegou perto das partidas de ontem, mas o espetáculo e a vibração da torcida inglesa garantiram aquele clima de Copa do Mundo que sempre há neste tipo de partida. Dentro de campo, as duas equipes vieram montadas de forma parecida, com três zagueiros, quatro jogadores no meio e uma linha mais ofensiva, que se diferenciava mais pelas características de cada jogador do que pela posição em campo. Se nos mandantes havia velocidade de sobra com Saka e Sterling, no lado germânico Havertz e Müller seriam os armadores para Werner na frente.

    O primeiro tempo ficou abaixo da esperado. A Alemanha até começou melhor, dominando os primeiros 15 minutos, mas a Inglaterra respondeu com o controle da posse de bola e a primeira chance de perigo, em conclusão de Sterling que Neuer defendeu bem. Por sua vez, o time alemão só colocou Pickford no jogo depois dos 30, em uma finalização de Werner após bela enfiada de bola de Havertz. Com um Müller sumido e laterais sem tanto espaço para apoiar, o jogo alemão foi mais engessado, sem tanto perigo, enquanto o time inglês foi ligeiramente melhor. O lance derradeiro da primeira etapa foi da Inglaterra, com Harry Kane recebendo uma sobra de bola na cara do goleiro da Alemanha. No entanto, não conseguiu finalizar. O segundo tempo pedia um pouco mais de futebol de ambos os lados.


    E ele não veio de imediato. Tirando a ótima chance de Havertz num chute de primeira logo no início, em que Pickford fez linda defesa, o panorama voltou igual, com a Alemanha tentando criar mais e a Inglaterra jogando de forma mais defensiva, esperando um contra-ataque. O jogo se manteve assim até que Gareth Southgate resolveu olhar para o banco, escolhendo Grealish para o lugar do inoperante Saka. Foi aí que as coisas começaram a mudar, e Harry Kane, então um ilustre espectador, pôde enfim participar do jogo.

    Eram 30 minutos quando Sterling, Kane e Grealish fizeram boa trama pelo lado esquerdo, acionando Shaw, que cruzou rasteirinho na medida para Sterling abrir o placar. 1 a 0 e vibração intensa da torcida inglesa, tremendo o poderoso Wembley. A Alemanha precisaria sair para o jogo de uma vez por todas, para alcançar o empate. E ele poderia ter vindo cinco minutos depois, mas o  sumido Müller perdeu: Sterling, o herói de então, errou um passe para trás, Havertz recuperou e fez lindo lançamento para Müller, nas costas da defesa. Cara a cara com o goleiro e vendo os zagueiros se aproximarem, o camisa 25 bateu da entrada da área, buscando o cantinho direito. Mas tirou demais, do goleiro e do gol, e a bola passou raspando. Num jogo decisivo como esse, perder uma chance daquelas era pedir para ser punido.

    E a punição chegou. Em jogada parecidíssima com a do primeiro gol, agora preparada por Shaw para cruzamento de Grealish, Harry Kane apareceu para marcar de cabeça seu primeiro gol na Euro. Aí o Wembley explodiu, torcedores gritavam a plenos pulmões e a Alemanha sentia o golpe. Era uma atmosfera de vitória, de êxtase e de festa nas arquibancadas. Nos pouco menos de dez minutos restantes, os alemães ainda tentaram alguma coisa, apelando para jogadas aéreas e ataques desordenados, mas não dava mais, a vaga era mesmo inglesa. Quem foi melhor acabou levando.

    Agora o English Team terá pela frente a Ucrânia, que vem de crista alta após eliminar a Suécia com um gol no último minuto da prorrogação. A vitória de hoje não pode cobrir os pecados do time, principalmente na escalação: Grealish, Foden ou Mount não podem ser reservas, enquanto Saka é titular. O futuro da Inglaterra nessa Euro passa por isso e pela prevenção contra zebras, já que não há nenhum possível bicho-papão pelo caminho até a final. É continuar vencendo que um lugar em Wembley, no dia 11 de julho, estará garantido.

Em tempo:

_ Joachim Löw despede-se de forma melancólica da Seleção. Mas que fique o bom trabalho do técnico, terceiro colocado em duas ocasiões (uma delas como auxiliar), campeão do mundo e da Copa das Confederações. Foi o melhor técnico alemão do século, sem dúvidas.

_ Será o fim de uma geração? Apesar da próxima Copa ser logo ali, no fim do ano que vem, pode ser o fim da linha para Kroos, Müller, entre outros.


INGLATERRA 2x0 ALEMANHA
Eurocopa 2020 - Oitavas de Final
Data: 29/06/2021 - 13h
Local: Wembley Stadium, Londres (ING)
Público: 41973
Árbitro: Danny Makkelie (HOL)
Gols: Sterling 30 e Harry Kane 41 do 2º
Cartão amarelo: Rice, Phillips, Maguire, Ginter e Gosens

INGLATERRA (3-4-3): Pickford (7); Kyle Walker (6), Stones (6,5) e Maguire (7); Trippier (5,5), Rice (5,5) (Henderson, sem nota), Phillips (5,5) e Luke Shaw (7,5); Saka (5) (Grealish, 7,5), Sterling (7) e Harry Kane (C) (6,5). Técnico: Gareth Southgate (6).

ALEMANHA (3-4-2-1): Neuer (C) (6); Ginter (5) (Emre Can, sem nota), Hümmels (6) e Rüdiger (5,5); Kimmich (5,5), Kroos (5,5), Goretzka (5) e Gosens (5) (Sané, sem nota); Havertz (6,5) e Müller (4,5) (Musiala, sem nota); Werner (5) (Gnabry, 5). Técnico: Joachim Löw (5).

O craque do jogo: Luke Shaw (Inglaterra) - ele não ganhou o prêmio de melhor em campo, não foi o melhor em notas, mas jogou muito, tanto defensiva quanto ofensivamente. Se no primeiro tempo ajudou a frear qualquer avanço de Kimmich, no segundo participou muito no ataque, contribuindo nos dois gols.

O pereba do jogo: Thomas Müller (Alemanha) - é duro dar esse prêmio para um jogador de tanta qualidade, mas hoje ele realmente esteve abaixo do ritmo que o jogo pedia. Além de estar sumido na partida, quando apareceu perdeu uma grande chance logo após o primeiro gol inglês. Será que é o fim da linha para ele na seleção?

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