#11 FUTHISTÓRIA: DE VOLTA AO SEU LUGAR

    Naquele 26 de junho de 2010, eu e meu irmão assistíamos à abertura do mata-mata da Copa do Mundo sentados no sofá da sala, cada qual torcendo por seus favoritos. Eu, torcendo pela Coreia do Sul, mas já prevendo uma classificação tranquila para os uruguaios de Diego Forlán, enquanto meu irmão apostava todas suas fichas em Park Ji-Sung, jogador que admirávamos do Manchester United. No fim das contas, o 2 a 1 dos uruguaios garantiu uma boa classificação para a Celeste até a próxima fase, e os coreanos não ficaram por baixo: afinal, desde 2002, quando receberam a Copa, não avançavam de fase. E desde aquela Copa na África do Sul, os sul-coreanos sempre perdem na primeira fase.

    Os prognósticos apontavam uma classificação tranquila do Uruguai, um dos melhores times da Copa e que tinha em Diego Forlán um refúgio de criatividade na meia-cancha. Por sua vez, a Coreia do Sul era taxada como uma "vaquinha", que só queria comemorar a classificação e não perder de muito, apagando a má impressão deixada após a goleada sofrida por 4 a 1 para a Argentina na fase de grupos. Mas quem fez essas previsões já quebrou a cara logo de início: com 4 minutos, Park Chu-Young cobrou uma falta perigosa da entrada da área, acertando a trave de Muslera e dando um susto na torcida uruguaia.

Suárez foi o grande nome da vitória uruguaia.

    Se a Coreia assustou primeiro, o Uruguai foi quem acabou chegando lá: eram 8 minutos de partida quando Forlán dominou uma bola pela ponta esquerda, gingou em cima de Kim Jung-Woo e cruzou rasteiro, na entrada da pequena área. O goleiro Jung Sung-Ryong saiu mal e Suárez apareceu como um tanque para marcar. Com menos de dez minutos, os uruguaios saíam na frente, e agora já poderiam adotar seu jogo de contra-ataque, dando a bola para os sul-coreanos. Assim, o primeiro tempo terminou com o 1 a 0 no placar, pois a Coreia não conseguia adentrar na área adversária; a solução era apelar para os chutes de fora da área e os cruzamentos, mas eles não representavam perigo.

    Veio o segundo tempo e uma Coreia muito mais presente e determinada veio a campo no Nelson Mandela Bay. Com Park Ji Sung, Chu Young e Lee Young Pyo aparecendo bem no apoio, além do dedicado Lee Chung-Yong, o time asiático começou a representar mais perigo, ameaçando a vantagem construída pela Celeste. Na onda dos cruzamentos e na subida dos laterais, a Coreia chegava, e nada do Uruguai reagir, esperando um contra-ataque que nunca vinha. Park Ji Sung teve uma chance de cabeça, mas Muslera caiu bem para defender.

    O gol da Coreia, que já estava madurando, aconteceu aos 22 minutos, marcado por Lee Chung-Young. Em cobrança de falta da esquerda, a zaga uruguaia rebateu parcialmente, ainda para dentro da área, e o goleiro Muslera saiu mal na tentativa de cortar, deixando o caminho livre para o camisa 17 coreano empatar. Por conta de seu goleiro e pelo recuo excessivo, o Uruguai via a classificação escorrer entre seus dedos. O tridente com Forlán, Cavani e Suárez era mero telespectador naquele momento.

    O primeiro gol sofrido pelo Uruguai na Copa pareceu acordar o time, que voltou a atacar e jogar com mais vontade. Cavani e Suárez se movimentavam bem, enquanto Forlán era o regente pelo meio. Com Lodeiro em campo, o time charrua ficava mais ofensivo, querendo matar tudo antes da prorrogação. Não entendo porque times tão qualificados como o Uruguai se retrancam após uma magra vantagem de 1 a 0.

    E a pressão uruguaia deu certo. Quando desabava uma forte chuva sobre o gramado do Nelson Mandela Bay, o time charrua, talvez mais acostumado àquele ambiente adverso, voltou à frente no placar: eram 35 minutos quando Luís Suárez pegou a sobra de um escanteio pela esquerda da área, cortou Jung-Woo e bateu bem, com categoria, no cantinho do goleiro. A bola ainda bateu na trave antes de entrar, numa finalização daquelas que Suárez se acostumaria a dar anos depois, por Liverpool e Barcelona, principalmente.

    Nos dez minutos finais, a Coreia ainda ensaiou uma pressão, mas o Uruguai foi competente para se segurar e garantir a vitória. A última chance foi de Lee Dong-Guk, cara a cara com Muslera, mas o camisa 20 não bateu tão bem, e o goleiro defendeu, embora quase tenha levado um frango. Acabou que o 2 a 1 foi merecido pelo que as equipes fizeram no jogo, demonstrando a qualidade técnica de ambas as equipes. Aquela vitória significou a volta do Uruguai para o grupo dos grandes times, chegando longe numa Copa após vários anos. E eles nem sabiam que uma batalha ainda mais difícil os esperava nas quartas de final.

Em tempo:

_ Park Ji Sung foi o cara que a seleção precisava, coordenando as ações do meio-campo e caindo bem pelos lados quando necessário. O experiente Lee Young Pyo também foi bem.


URUGUAI 2x1 COREIA DO SUL
Copa do Mundo 2010 - Oitavas de final
Data: 26/06/2010 - 11h
Local: Nelson Mandela Bay, Port Elizabeth (AFR)
Público: 30.597 pessoas
Árbitro: Wolfgang Stark (ALE)
Gols: Suárez 8' 80'| Lee Chung-Young 67'
Cartão amarelo: Kim Jung-Woo, Cha Du-Ri e Cho Yong-Hyung

URUGUAI (4-3-1-2): Muslera (4,5); Maxi Pereira (5,5), Godín (6) (Victorino, 5,5), Lugano (C) (7) e Fucile (5,5); Diego Pérez (6,5), Arévalo (6) e Álvaro Pereira (5,5) (Lodeiro, 6); Forlán (6); Cavani (6) e Suárez (7,5) (Álvaro Fernández, sem nota). Técnico: Óscar Tabárez (6,5).

COREIA DO SUL (4-2-3-1): Jung Sung-Ryong (4,5); Cha Du-Ri (5,5), Cho Yong-Hyung (5), Lee Jung-Soo (5,5) e Lee Young Pyo (6); Kim Jung-Woo (5) e Ki Sung-Yueng (5) (Yeom Ki-Hun, sem nota); Lee Chung-Yong (6,5), Park Ji Sung (C) (6,5) e Kim Jae Sung (5,5) (Lee Dong-Guk, 6); Park Chu-Young (6). Técnico: Huh Jung-Moo (6).

O craque do jogo: Luís Suárez (Uruguai) - com dois gols, o melhor em campo não podia ser outro. El Pistolero foi perigosíssimo, mesmo sacrificado pelo recuo do time após o 1 a 0.

O pior em campo: Jung Sung-Ryong (Coreia) - a falha numa bela fácil logo no início do jogo foi determinante para o primeiro gol de Suárez.

Melhores momentos da partida. (YouTube).


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