FUTHISTÓRIA: UMA QUARENTENA DE LEMBRANÇAS

O logotipo oficial da Copa do Mundo FIFA de 2010.


    Nestes mais de 15 anos acompanhando futebol, a coisa que mais me fascina, tirando as vezes em que meu time entra em campo, são os jogos internacionais entre seleções, principalmente em grandes torneios, como a Euro, a saudosa Copa das Confederações e, claro, a Copa do Mundo. Além do evidente significado esportivo, de competir pelo título de melhor seleção do mundo, me tocam os sentimentos de conhecer novas culturas, novos países, costumes, tudo isso através do futebol. Pode parecer um purismo da minha parte, mas vejo esses torneios como um momento de reflexão e de união entre os povos, todos se aceitando e se respeitando como deveria ser no dito "mundo real". As Olimpíadas, que começam já na semana que vem, também me afetam nesse sentido.

    Em 15 anos, assisti a quatro Copas do Mundo pela TV, todas marcantes, umas mais e outras menos, mas todas importantes. 2006 foi a primeira, disputada na festeira Alemanha, que exalava vida com suas famosas Oktoberfest. Eu, um menino de apenas 6 anos, estava na primeira série do ensino fundamental, onde aprendia o beabá em uma escola perto de casa, no turno da tarde. Naquele mês de junho e início de julho, estava muito animado com a Copa do Mundo, por poder ver tantos craques de perto na televisão, assistir a vários jogos todo dia (isso quando a escola permitisse) e acompanhar tudo sobre aquele Mundial. Até ganhei do meu pai um pequeno guiazinho daquela Copa, nem me lembro mais quem publicou ou quem escreveu, mas era um livrinho muito interessante sobre a história dos mundiais e sobre as 32 seleções. Com ele fiquei sabendo quem era Luís Figo, Pavel Nedved, Dado Prso e até um jovem Cristiano Ronaldo, ainda de cabelos claros. Era uma curtição só ler aquele guia, antes, durante e depois da Copa. Foi ele inclusive quem me influenciou a gostar de escrever, pena que suas páginas se perderam em algum lugar do passado.

    Ainda sobre a Copa de 2006, era hábito cantar o hino nacional na escola em todas as quartas-feiras, independente se tinha jogo ou não. No pátio, todos os alunos reunidos ouvindo aqueles versos, e a gente se sentia como os jogadores brasileiros lá na Alemanha. Pena que, no final, deu no que deu, e a bagunça da seleção canarinho se refletiu em campo, derrotada pela França por 1 a 0 nas quartas de final, gol de Henry. Chorei pela derrota como uma boa criança, mas fiquei feliz alguns dias depois pela derrota dos Bleus na grande final para a Itália. E ainda havia uma cabeçada de Zidane no meio do caminho.

    Na Copa de 2014, eu já estava mais crescido, frequentando o primeiro ano do ensino médio na mesma escola. Mas pelo Mundial ser em terras brasileiras, foi sem dúvida o momento de minha vida em que mais fiquei próximo do clima da Copa do Mundo, com casas e ruas enfeitadas, pessoas vestidas com o uniforme da seleção e a vista de alguns estrangeiros nas nossas raras idas à capital mineira, sede de alguns jogos. Com 30 dias de férias da escola, foi futebol pra mais de metro naqueles meses de junho e julho. Pena que, como minha mente àquela altura era bem diferente da de hoje em dia, torci ferrenhamente contra o Brasil. O 7 a 1 para a Alemanha em pleno Mineirão foi um dos dias mais felizes daquele ano, e o fato dos alemães usarem o uniforme que homenageava meu time foi só um detalhe.

    Chegamos a 2018, e a vida já mudara bastante nesses 4 anos. Entrei na faculdade, quis seguir a carreira de professor, arrumei uma namorada, e mudei meu jeito de pensar, política e socialmente, voltando a torcer pela Seleção. A competição foi na Rússia, frio país europeu, mas com uma cultura riquíssima, embora os torcedores não fossem sinônimo de festa nos arredores dos estádios. Quem cumpria bem esse papel eram os imigrantes, que infestavam as cidades-sede com suas cores e fantasias. Dentro de campo, a França foi campeã numa fabulosa final contra a Croácia, conquistando o bi após 20 anos. Dos 48 jogos transmitidos ao vivo na TV, 47 deles eu vi - apenas a goleada inglesa sobre o Panamá me passou batido.

    O leitor mais atento deve ter reparado que pulei a Copa do Mundo de 2010. Isso porque a primeira Copa na África se revelaria para mim uma festa, com um clima maravilhoso de futebol a se espalhar pelo mundo. Falemos mais especificamente dela nessas linhas:

Copa de 2010... em 2020

    A Copa do Mundo de 2010 foi especial em uma série de sentidos: além de ser a primeira no continente africano, o torneio voltava para o hemisfério sul após 32 anos, sendo também a primeira competição que acompanhei com mais desenvoltura para entender o futebol. Assim como em 2006, ganhei de meu pai um guia do torneio, não um guiazinho como na Copa da Alemanha, mas uma edição da Revista Veja que detalhava o torneio em uma série de páginas. Por sinal, aquela revista está hoje bem guardada em uma das caixas deste quarto, e embora algumas folhas tenham se perdido, a maioria ainda está aqui, comigo. Foi nessa revista, inclusive, que me baseei para fazer meu guia da Eurocopa, no mês passado.

    Cheguei naquela época sabendo tudo de antemão sobre a Copa. Destaques individuais, estádios, tabela, uniformes, sabia tudo sobre o glorioso torneio sul-africano. Foi com alegria que torci para a África do Sul no primeiro dia, mas ela apenas empatou com o México. Pelo menos o primeiro gol do Mundial foi dos Bafana Bafana, marcado por Tshabalala num chutaço que acertou o ângulo do baixinho goleiro Óscar Pérez. Desse jogo em diante, acompanhei tudo que fosse possível sobre a Copa, sempre perdendo um jogo aqui e ali, lamentando nunca poder rever no futuro.

    Até que veio a pandemia do coronavírus. Em março de 2020, as aulas presenciais foram interrompidas, e enquanto eu e o mundo acompanhávamos com terror a fatalidade da doença, batia a saudade daqueles tempos felizes de 10 anos atrás, quando podíamos dançar, gritar, comemorar, se abraçar sem medo de ficar doente. Enquanto não voltavam as aulas online, marcadas para agosto, decidi mergulhar naquele passado, tão distante quanto feliz.

    Conheci o Footballia, um imenso acervo virtual com milhares de jogos de várias épocas, e qual não foi minha surpresa quando toda a Copa de 2010 estava lá, reluzente, a espera de um telespectador? Sem hesitar, pus na minha cabeça que ia rever toda aquela competição, pois tempo eu tinha de sobra. E estou conseguindo, afinal. Assisti ao empate entre África do Sul e México no dia 23 de abril de 2020, suportando a narração em russo. Daí fui vendo todos, com a média de um por dia, até chegar ao duelo entre Coreia do Norte e Costa do Marfim, antepenúltimo da terceira fase. Vieram as aulas e os muitos afazeres, e aí não pude manter o ritmo.

    Até que esse ano a vontade voltou de vez, e vi as partidas que faltavam para completar a fase de grupos. Agora faltam os 16 jogos do mata-mata, e o Retrancados trará uma análise de todos eles aqui, na seção FutHistória. Com uma partida por semana, pelo menos enquanto o semestre não acaba, é uma verdadeira nostalgia para quem gosta. Relembre você também, e acompanhe através dos nossos textos. Amanhã já tem Uruguai x Coreia do Sul, duelo que abriu as oitavas de final daquela Copa.

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