A PRIMEIRA VEZ A GENTE NUNCA ESQUECE

Juninho comemora o gol da vitória. (Portal Lance).

    Pode chamar de frase clichê, chavão, o que quiser, mas a frase que ilustra o título é a que melhor representa a minha primeira ida a um estádio de futebol, com toda a felicidade que esse momento pode trazer. Buscando reviver aquele momento, trago aqui, em formato de texto, como foi vivenciar minha primeira vez no estádio, as dificuldades que enfrentei, o caminho até o palco da partida, o jogo, enfim, como foi aquele momento inesquecível.

    Desde que me entendo por gente, sempre fui um fanático por futebol. Não sei de quem puxei esse gosto, já que meu pai não liga pro assunto e minha mãe sabia pouco do esporte, apesar de ser atleticana. Mas fato é que sempre gostei de futebol, de jogar, falar, ver, enfim, eu vivo e respiro futebol. No entanto, por ser apaixonado pelo Flamengo, time que definitivamente não é do meu estado, jamais tive a chance de pisar em um estádio de futebol, ainda mais pelos poucos recursos financeiros que tinha quando mais novo e ainda tenho até hoje, embora em menor proporção. Assim, ir a um estádio era um sonho bem distante.

    Até que chegou a reta final do ano de 2018. Como o semestre na UFMG estava acabando e o número de preocupações diminuía, bateu aquela vontade de conhecer um estádio, e a oportunidade era perfeita no fim do mês de novembro: ainda com chances de se livrar do rebaixamento para a Série B, a diretoria do América anunciava, a plenos pulmões, a venda de ingressos mais baratos para a decisiva partida contra o Bahia, pela penúltima rodada daquele Brasileirão. Com ingressos a partir de 5 reais, era a ocasião perfeita para matar minha curiosidade.

    Depois de convidar meu irmão a ir ao estádio, no que ele prontamente aceitou, começou a batalha pelos ingressos. Lembro que o jogo seria num domingo, dia 25, e saí de casa pronto para garantir o tíquete numa sexta, 23. Segundo o site do América, os ingressos estavam se esgotando, mas ainda havia alguns no Boulevard Shopping, região centro-sul de BH. Assim, saí mais cedo de casa naquele dia, já que estudo à noite, para conseguir comprar os ingressos, meio sem-rumo, pois nem sabia direito como chegar ao shopping. O que havia feito mesmo era uma pequena rota para chegar à loja, mas tudo estava na minha cabeça.

    Lembro de descer do ônibus, em frente ao Parque Municipal, preocupado em estar indo para um lugar onde nunca fui. Mesmo assim, fui a pé, passando por ruas desconhecidas, atravessando avenidas movimentadas, andando embaixo de viadutos. Até que, já morto de cansaço e todo zuado, finalmente cheguei ao shopping. O desafio agora era achar a tal loja do América, posicionada em algum estacionamento. Foi uma luta até encontrá-la, gastei um tempo danado rodando pelo shopping, mas no final deu certo, e consegui comprar os ingressos. Lembro bem da moça do caixa, simpática e vestida de verde, dizendo um sorridente "até amanhã" quando saí com os tíquetes. Acho que ela notou meu cansaço...

    Depois de chegar atrasado na aula de sexta, foi a vez de esperar até domingo para curtir o momento. Na tarde do dia do jogo, a previsão do tempo já anunciava que fortes chuvas estavam por vir, com possibilidade de enchente, raios, e outros fenômenos naturais. Eu, já impaciente com medo de algo dar errado, ficava com medo de ocorrer algum imprevisto ou não dar tempo de chegar ao Independência, naquele típico temor irracional que toma conta da gente antes de alguma coisa importante. Enquanto isso, começava na TV o jogo entre Cruzeiro e Flamengo, partida que poderia representar o título brasileiro do Palmeiras em caso de tropeço rubro-negro. Quando meu irmão chegou, buzinando para sairmos, pelo menos vi o golaço de Éverton Ribeiro, abrindo a contagem no Mineirão. Pelo menos era um sinal de sorte.

    Até que o Independência não é tão longe daqui quanto eu imaginava. Com a chuva ameaçando cair, passamos por Nova Pampulha, Zoológico, Parque Ecológico, Pampulha, Caiçara, Centro, enfim, toda a sorte de bairros que fazem parte de BH até chegarmos ao Horto, alguns quilômetros depois do próprio Centro. Quando estacionamos o carro, já era possível ver várias pessoas de camisa verde, muitos idosos e adultos, mas crianças também. Andando um pouco mais, era possível ver o Independência de fora, parecendo mais uma nave de concreto do que um estádio. Ali perto, torcedores na fila para entrar, enquanto outros falavam "seus nomes e seus respectivos bairros" para o repórter de plantão.

    Lembro que me bateu um medo quando chegou minha vez de passar os ingressos, não sei por que razão, mas a verdade é que deu tudo certo e enfim pudemos entrar, passando por túneis, escadas e subidas até achar nosso lugar. A primeira vez que vi o campo não acreditei: parecia um tapete, um tapete brilhante com a chuvinha que caía, molhando a gente e os jogadores que batiam bola no gramado. Perto de nós, muitos espaços vazios, mas que rapidamente foram enchendo com o aproximar da hora do jogo. Às 19:00, finalmente começou a peleja.

    O primeiro tempo do América não foi dos melhores, em que o Bahia chegou perto de abrir o placar, principalmente em uma cabeçada dentro da área que exigiu uma grande defesa de João Ricardo, tirando um "uuuhhh" de mim e dos torcedores em volta. Enquanto, isso, o Coelho tentou alguns sustos, mas pouco conseguiu agredir o time baiano. O que mais me chamou a atenção na primeira etapa foi o ritmo contagiante da torcida, entoando cânticos, balançando bandeiras e gritando confiantes, passando também para mim um pouco daquele sentimento, tal a harmonia que havia. Idosos, mulheres, até crianças gritavam, despejando todo o seu repertório de palavrões a cada decisão "incorreta" tomada pelo árbitro. Parecia um uníssono de revoltosos.

    Após disparos de camisas feitas pelo Coelhão, mascote do América, no intervalo, as duas equipes voltaram para o segundo tempo confiantes na vitória. Acho que a confiança dos americanos era maior, motivada pela presença da massa por ali, porque logo a dois minutos Juninho abriu o marcador no Independência. Em jogada preparada por Rafael Moura, que dominou a bola e fez o passe, o volante americano marcou o gol, mesmo chutando errado e todo torto. Foi feio, mas foi o bastante para explodir aquele monte de gente, incluindo eu e meu irmão, um flamenguista e um atleticano, como que disfarçados ali na arquibancada. O primeiro gol visto no estádio não foi dos mais bonitos, mas foi especial.

    No segundo tempo, muitos "uuuhhh" ainda saíram, principalmente após uma finalização na trave do Bahia, que quase colocou a perder aquela tão importante vitória. Pelo lado do América, Rafael Moura ainda perdeu um gol feito, desperdiçando a chance de uma tranquilidade na partida. Pelo menos não fez falta, e o árbitro Marcelo Aparecido de Souza finalizou o jogo com a vitória americana por 1 a 0. Com o triunfo, um misto de satisfação, alívio e felicidade inundava todo o estádio, exalado pelos torcedores que iam embora felizes pelo resultado. Saindo do Independência, até ouvi alguns dizerem: " agora é ganhar do Fluminense lá no Rio semana que vem". Pena que, mais uma vez, a sorte não sorriu para o Coelho, e o rebaixamento acabou acontecendo, e de forma dramática. Três anos depois, espero que o fim do campeonato seja melhor para o América, com um final feliz em dezembro. É o que o time merece, depois de tanto sofrimento.

    Quanto a mim, depois desse episódio, ainda tive minha segunda vez, agora em um frio e aleatório jogo contra o Operário no Indepa em 2019. Com a volta do público durante essa pandemia, espero que a oportunidade de voltar ao estádio apareça logo logo, para que eu possa repetir essa experiência que, sem dúvida, me fez respeitar ainda mais o América. Também espero o dia de, quem sabe, poder ver meu time jogar do estádio, em um Maracanã talvez. Pode ter certeza que, quando isso acontecer, lembrarei dessa ocasião para sempre.

Em tempo:

_ Para exercitar a lembrança, deixo aqui a ficha técnica daquele jogo no Independência:


AMÉRICA 1x0 BAHIA
Campeonato Brasileiro 2018 - 37ª rodada
Data: 25/11/2018 - 19h
Local: Independência, Belo Horizonte (BH)
Árbitro: Marcelo Aparecido de Souza
Gol: Juninho aos 2' do 2º
Cartão amarelo: Norberto, João Ricardo, Tiago e Gregore
Cartão vermelho: Tiago

AMÉRICA: João Ricardo; Norberto (Aderlan), Messias, Matheus Ferraz (C) e Carlinhos; Zé Ricardo, Juninho, Marquinhos (França), Luan e Matheusinho (Paulão); Rafael Moura. Técnico: Givanildo Oliveira.

BAHIA: Douglas; Bruno, Tiago (C), Lucas Fonseca e Léo; Elton, Gregore, Clayton (Gilberto), Zé Rafael e Eric Ramires (Vina); Edigar Júnio (Júnior Brumado). Técnico: Enderson Moreira.

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