TIMES QUE CURTI: AVAÍ 2009

    Quem acompanhou o Brasileirão 2009 lembra que aquela foi uma das mais disputadas e equilibradas edições do torneio desde que o regulamento por pontos corridos teve início, em 2003. Basta olhar para a campanha do campeão, Flamengo, que atingiu os 67 pontos e é, até hoje, o vencedor com a menor pontuação nos Campeonatos Brasileiros de 20 clubes. Basta lembrar também que o próprio Flamengo, naquele ano, ocupava a 14ª posição pouco depois da virada do turno, estando longe das primeiras posições, mas embalou uma série de resultados positivos e acabou com a taça. No entanto, outro clube também viveu um cenário parecido naquele torneio, saindo das últimas posições e embalando no campeonato a ponto de até almejar uma vaga na Libertadores. É o Avaí de Silas, time que fez história em 2009.


    Depois de conseguir o acesso para a Série A em 2008, em que subiu ao lado de Corinthians, Santo André e Grêmio Barueri, o Avaí vivia um clima de festa, pois, 30 anos depois, o Leão da Ilha estava de volta à elite do futebol nacional. Com Silas no comando, técnico de pouquíssima experiência na função, já que apenas havia comandado o Fortaleza entre 2007 e o início de 2008, a expectativa era de rebaixamento para o time catarinense, pelo seu elenco pouco "tarimbado", digamos assim, e pela inexperiência do treinador.

    A temporada até começou boa para o Avaí, com o emocionante título do Campeonato Catarinense sobre a Chapecoense. Após perder por 3 a 1 no duelo de ida, o Leão devolveu o placar no duelo da volta, levando a partida para a prorrogação. Nesse período, a equipe avaiana conseguiu marcar mais três gols, saindo de campo com uma goleada por 6 a 1 e o título estadual em mãos. Depois disso, torcida, equipe e diretoria vieram confiantes para o início do Brasileirão.

    No entanto, foi a hora do choque de realidade para os comandados de Silas. O início do time no campeonato não foi nada bom, com quatro derrotas e dois empates nos seis primeiros jogos, inclusive com um revés para o Grêmio Barueri fora de casa na sexta rodada, resultado que derrubou o time avaiano para a zona de rebaixamento. A primeira vitória só veio na rodada seguinte, contra o Fluminense na Ressacada, em que o Leão venceu por 3 a 2, gols de Léo Gago, Marquinhos e Muriqui. Apesar disso, o time voltou a acumular derrotas, agora para Cruzeiro, Palmeiras e Botafogo, e voltou para a última posição do campeonato, com pouco mais de um quarto do torneio disputado. Diante de um início tão ruim, qualquer time não pensaria duas vezes em demitir seu treinador, pois a situação estava desesperadora. Mas o Avaí não o fez, bancando Silas como comandante pelas próximas rodadas, uma escolha que se mostrou muito acertada.

O time do Avaí na final catarinense.

    As coisas começaram a mudar a partir da rodada seguinte, contra o Goiás no Serra Dourada. Com gols de Muriqui e Roberto no segundo tempo, o Leão da Ilha venceu por 2 a 0, quebrando um longo e incômodo tabu de 32 anos sem vencer fora de casa pela elite do futebol brasileiro. Certamente que a quebra daquele tabu deu um gás para melhores resultados nos próximos jogos, o que acabou acontecendo, mas não foi só isso que mudou no time avaiano. A mudança de esquema feita por Silas foi primordial para o Avaí melhorar seu desempenho, passando de um burocrático 4-4-2 para um movediço 3-5-2, com Muriqui dando suporte para William no ataque e Marquinhos armando o jogo no meio-campo. Mas o mais importante era a liberdade concedida aos alas nesse novo esquema, já que Luís Ricardo e Eltinho eram muito melhores ofensivamente do que na hora de marcar. Assim, estava montada a base para o prosseguir da temporada.

    Com essa formação, o Avaí passou de quase rebaixado para sensação do campeonato. Depois de vencer o Goiás, emendou triunfos contra Sport, Grêmio, Atlético-PR e Vitória, jogando fora de casa com o mesmo vigor e a mesma vontade de quando os jogos eram na Ressacada. Contra o Vitória, inclusive, o time fez o que, para muitos, foi sua melhor atuação, com um 4 a 0 inapelável para delírio dos torcedores presentes em Florianópolis. Os gols foram de Luís Ricardo, Marquinhos, Muriqui e Caio, todos com uma boa dose de velocidade na sua construção, mesmo aqueles marcados de pênalti. Aquela sequência de triunfos tirou o Avaí da 18ª para a 8ª posição, com 22 pontos, dentro da zona da Sul-Americana. Mas havia mais por vir.

    Nos seis jogos seguintes, o Avaí alternou entre empates fora de casa, contra Corinthians, Santos e Atlético/MG, e vitórias na Ressacada, batendo Santo André, Náutico e Flamengo. Essa vitória contra o Fla inclusive, pela 21ª rodada do campeonato, representou a entrada dos catarinenses no G4, então com 34 pontos. Era um sonho virando realidade, ainda mais porque o Leão jogava de igual para igual com os outros clubes, e atacava com muita qualidade. O Flamengo, mesmo campeão daquele ano, não conseguiu vencer o Avaí na temporada, o que foi mais um feito e tanto para esse time histórico.

Todos comemoraram o 3 a 0 no futuro campeão Flamengo 

    Talvez maravilhados com o fato de chegarem tão longe, os jogadores do Leão não conseguiram jogar bem contra o Coritiba, no próximo jogo, e foram derrotados por 2 a 0, dando um fim na incrível arrancada de 11 jogos do time avaiano, com 8 vitórias e 3 empates. Assim, a equipe diminuiu o ritmo nas jornadas seguintes, perdendo quatro partidas em um período de cinco jogos, só goleando o Barueri, na Ressacada, por 4 a 0. As partidas sem vencer derrubaram o Avaí para o meio de tabela, ainda mais pelos frequentes empates que aconteceram, contra Cruzeiro, Palmeiras e Botafogo, curiosamente todos por 2 a 2. O ataque estava trabalhando bem, mas a defesa vivia uma pequena má fase, o que fez os catarinenses caírem para a 12ª posição, com 40 pontos.

    Depois de vencer novamente o Goiás, empatar com o Sport e ser derrotado pelo Grêmio, o Avaí veio para a reta final da temporada confiante em voltar pelo menos ao top-10 da tabela e, de quebra, tentar incomodar os rivais e pleitear alguma vaga sobrando na Libertadores. Pensando nisso, das seis partidas restantes, o Avaí venceu quatro, empatando uma e perdendo apenas para o Santo André fora de casa, em jogo que tirou qualquer chance do Leão classificar-se para a Libertadores. No entanto, a vaga na elite do futebol sul-americano era realmente demais para aquele time, mas a classificação para a Copa Sul-Americana estava de ótimo tamanho. No empate contra o Santos, na penúltima rodada, Silas fez sua despedida do comando técnico do Avaí, pois sua ida para o Grêmio já estava encaminhada. Sem ele, o Leão fechou sua maravilhosa campanha, contra o Náutico em Recife, vencendo por 1 a 0, terminando o campeonato na honrosíssima 6ª colocação, com 57 pontos conquistados. Foi uma campanha histórica, a melhor do Avaí na história!


    Aquele não era um time tarimbado, não tinha jogadores de renome ou com uma grande qualidade técnica, mas foi uma equipe ofensiva e eficiente, dotada de algumas boas peças e potencializada pelo bom trabalho coletivo de seu treinador. Além disso, o time era destemido, jogava para frente mesmo contra os ditos "grandes", principalmente na Ressacada. Com certeza foi o melhor time do Avaí que vi em toda a minha vida, e o que me fez mais raiva também, afinal, nem sequer marcamos gols contra eles naquele ano. Pelo menos fomos campeões.

O elenco reunido.

Time-base (3-5-2): Eduardo Martini; Rafael, Augusto e Émerson; Luís Ricardo, Ferdinando, Léo Gago, Marquinhos e Eltinho; Muriqui e William. Técnico: Silas.

Reservas imediatos e jogadores que estavam no elenco:
Paes (G); André Turatto (Z), Anderson Luís (Z), Rogélio (Z); Fabinho Capixaba (LD), Michel (LD), Medina (LD); Uendel (LE); Marcus Winícius (V), Fernando Bob (V), Xaves (V), Bruno Silva (V), Wendell (V), Pingo (V); Caio (M), Ricardinho (M), Odair (M), Assis (M), Gustavo (M); Lima (A), Cristian (A), Leonardo (A), Jandson (A) e Evando (A).

Artilharia:
12 gols: William
9 gols: Muriqui
8 gols: Marquinhos
6 gols: Léo Gago
4 gols: Luís Ricardo, Émerson, Eltinho
3 gols: Cristian
2 gols: Roberto
1 gol: Evando, Ricardinho, Lima, Ferdinando, Caio, Odair, Fabinho Capixaba, Rogélio

A CAMPANHA:
6º colocado, 57 pontos: 15 vitórias, 12 empates e 11 derrotas; 61 gols marcados e 52 gols sofridos.

OS DESTAQUES:

Eduardo Martini: disputou 186 jogos pelo Avaí, sendo 37 naquele campeonato, o que o deixou como o sexto jogador que mais vezes vestiu a camisa do Leão da Ilha. Foi para a Ponte Preta no ano seguinte, mesmo após uma boa temporada em Florianópolis;

Émerson: além de pilar da defesa avaiana, Émerson foi um zagueiro-artilheiro, marcando 4 gols na campanha vitoriosa de 2009. Ficou no Leão para a temporada seguinte, mas acabou rumando ao Coritiba para a temporada 2011;

Léo Gago: dono de um potente chute, o volante marcou 6 gols em 31 jogos no campeonato, cavando um lugar entre o top-5 de artilheiros. Passou por Vasco e Coritiba no ano seguinte;

Marquinhos: ídolo máximo do Avaí, onde fez 400 partidas e marcou 94 gols. Já era o capitão daquele time, colaborando com toda sua liderança e qualidade dentro das quatro linhas. Além disso, fez 8 gols em 2009. Atualmente, é diretor de futebol do Leão da Ilha;

Muriqui: conhecido aqui em Minas por sua passagem pelo Galo em 2010, fez uma bela temporada no ano anterior, contribuindo com 9 gols para a campanha felizarda do Avaí. Ainda jogou no Vasco da Gama e, hoje em dia, milita no futebol chinês.

William: conhecido como William Batoré, o centroavante corresponde àquele típico esteriótipo do jogador de área que não dispõe de muita técnica, mas sabe marcar gols. Fez 12 naquela edição de Série A. 

Comentários

  1. Que massa esse texto! Muito bom! Bateu a nostalgia. Vivi intensamente esse Avaí. Vi a Ressacada vir ABAIXO quando Léo Gago chutou do meio da rua pra fazer o gol da vitória contra o Fluminense, a primeira do Avaí na Série A. Ficou gravado na retina Ricardo Berna todo de laranja se esticando pra tentar alcançar a bola em vão. Foi no finzinho do jogo. Também não esqueço o 3 a 0 contra o Flamengo, a vitória contra o Atlético Paranaense com gol de bicicleta (será que foi do Evando?) e até mesmo a derrota pro Palmeiras na Ressacada com três gols do Obina (juro!). A análise tática da transformação do time é uma coisa que eu até hoje não tinha entendido, muito legal! Achei seu blog no twitter, alguém que sigo por causa de conteúdos de PES te marcou e aí caí aqui.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pô, que legal ver um comentário assim de quem viveu esse momento tão de perto! E sobre o time, realmente aquele foi um feito histórico do Avaí, daqueles que nos deixam a lembrança guardada por muitos e muitos tempos. Pena que nunca mais o Leão conseguiu chegar perto de repetir aquela campanha, não é? Muito obrigado pelo seu comentário!

      Excluir
    2. Ah, e só pra não deixar o Evando feliz com um gol de bicicleta na carreira, quem fez aquele golaço contra o Atlético/PR foi o centroavante William, um dos 12 tentos dele no campeonato.

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas