UM ANO ABENÇOADO

Saído do banco, Veron ganhou de Nathan Silva para dar o passe para Dudu marcar o gol da vitória. (Getty Images).


    Desde a chegada de Abel Ferreira, o Palmeiras vem fazendo história. Após a era ruim com Luxemburgo no ano passado, vieram os títulos da Libertadores e da Copa do Brasil na última temporada, que levaram de novo o Verdão para o topo do ranking dos times brasileiros. E agora, quase oito meses depois, o Palmeiras está de volta a mais uma final, conseguindo fazer um resultado favorável no Mineirão e sair com a vaga. Não foi bonito, não foi brilhante, não foi de encher os olhos, mas o time alviverde colheu os frutos de seguir em sua estratégia até o final, muito do trabalho de seu técnico Abel Ferreira. Já conhecemos o primeiro clube com lugar garantido em Montevidéu, no dia 27 de novembro.

    O treinador português mandou a campo um time forte defensivamente, com três zagueiros, Felipe Melo e Danilo compondo o meio-campo, e o trio Raphael Veiga, Dudu e Rony postado mais à frente. A estratégia era clara: defender bem e segurar o time do Galo, fechando os espaços para finalizações e triangulações pelos lados, além de apostar na bola longa e no contra-ataque como armas fatais. Por sua vez, sem contar com Diego Costa, o Atlético tinha Vargas entre os titulares, substituição natural para manter a característica da equipe. Assim, Hulk, Zaracho e Nacho teriam liberdade para se movimentar e tentar superar a firme defesa palmeirense.

    O que se viu no primeiro tempo foi um rascunho do que aconteceu no jogo de ida, lá no Allianz Parque. O Palmeiras, bem postado e arriscando pouco, tinha menos a bola, apostando em chutões e lançamentos, principalmente a partir de seu goleiro. Apesar disso, o Galo não fazia uma pressão tão alta, o que possibilitava o toque de bola na defesa do time paulista. Enquanto isso, o Atlético tentava chegar no ataque, mas parava na boa marcação. O quarteto ofensivo só conseguia se livrar da marcação quando a defesa palmeirense cometia algum erro, como na virada de bola errada de Luan, que o ataque atleticano não aproveitou. Só na reta final do primeiro tempo o Galo conseguiu ensaiar uma pressão, mas Weverton fez duas boas defesas para evitar o gol inaugural.

    Veio o segundo tempo, e uma dúvida pairava na cabeça das pessoas que assistiam ao jogo - pelo menos na minha: qual postura o Palmeiras adotaria para aqueles 45 minutos iniciais, sabendo que o time mineiro se mandaria ao ataque? Continuar defendendo e arriscar um contragolpe ou sair um pouco mais? A estratégia mais indicada parecia mesmo ser a de se defender, até que o Galo enfim abriu o placar, aos 7 minutos: em cruzamento de Jair da direita, Eduardo Vargas marcou de cabeça, inflamando os mais de 17 mil torcedores no Gigante da Pampulha. Faltava pouco, mas o Atlético estava indo para a final.

    Mesmo com o 1 a 0 no placar, Abel Ferreira manteve o sistema defensivo forte, sem exercer pressão na saída de bola adversária nem atacar com volúpia, digamos assim. Era uma estratégia arriscada, como bem pensei na hora, pois o Galo não sofria gols no Mineirão há um bom tempo, tem uma defesa sólida e não precisava se expor tanto. Apesar disso, o português manteve tudo como estava, só mudando 15 minutos depois do gol. A ideia parecia clara: continuar segurando atrás e apostar no contra-ataque, pois levar um 2 a 0 seria trágico para as pretensões palmeirenses. E esse segundo gol quase aconteceu pouco tempo depois, quando Vargas apareceu na cara do goleiro, mas Weverton fez boa defesa. O chileno perdera um gol feito.

    O tempo foi passando e o Palmeiras se tornando mais perigoso nos contragolpes. Pouco antes de ser substituído, Rony aproveitou um erro de Nathan Silva em lançamento de Weverton para sair na cara do gol, mas Éverson defendeu sua finalização. Cinco minutos depois, o atacante ex-Athletico/PR saiu para a entrada de Gabriel Veron, mexida de seis por meia dúzia, pensando em manter a velocidade no ataque palmeirense. E, em seu primeiro lance em campo, Veron foi decisivo: depois de bola lançada da defesa, o ponta ganhou de Nathan Silva e cruzou rasteiro para Dudu empatar. O gol estava feito, méritos de Abel Ferreira.

    Ainda faltavam mais de 25 minutos para o fim da partida, tempo mais que suficiente para um time qualificado como o Atlético tentar chegar ao gol. No entanto, o Palmeiras seguiu marcando bem, não dando possibilidade para o time atleticano. Já desesperado com o resultado que escorria entre suas mãos, o Galo apelou para os cruzamentos para a área, sempre cortados por Gustavo Gómez e, especialmente, Felipe Melo. No fim, até Réver entrou como centroavante para dar aquela mãozinha dentro da área, mas não deu. Depois de 95 minutos de partida, o 1 a 1 no Mineirão dava a classificação ao alviverde imponente.

    Foi um resultado excepcional, construído pelas mãos de um técnico qualificado, que soube montar um time defensivo e reativo o suficiente para buscar a vaga na final e defender o título da Libertadores. O Palmeiras correu riscos, mas soube superá-los para eliminar um gigante nas semis e avançar. Então cotado como azarão, o alviverde mostrou porque é o atual campeão da competição. Pelo lado do Galo, nada de terra arrasada: o time ainda tem Brasileirão e Copa do Brasil por disputar, com boas chances de levar o título em ambas as competições. No entanto, não é hora do tão sonhado bi da Libertadores.

Em tempo:

_ Explosão mais que justa de Abel Ferreira ao fim do jogo. Tudo bem que seu estilo de jogo não é dos mais vistosos, mas ele sofre uma perseguição desproporcional por certos setores da imprensa, muito por sua nacionalidade. Foi uma grande resposta aos corneteiros de plantão, que o taxam como um péssimo técnico somente pela atuação do time, sendo que muitas vezes eles nem estão preocupados com isso.

_ O Galo é um clube azarado: assim como em 77, quando foi vice-campeão do Brasileiro nos pênaltis, o time mineiro caiu invicto, sem perder um joguinho sequer. Adaptando o ditado costumeiramente usado por torcedores de outro clube alvinegro, há coisas que só acontecem com o Galo.

_ Ter que apelar para Réver como centroavante nos minutos finais é o puro suco do Cucabol. Galo Doido de 2013 esteve de volta ontem no Gigante da Pampulha.


ATLÉTICO/MG 1x1 PALMEIRAS (Palmeiras avança no gol fora)
Copa Libertadores da América 2021 - Semifinal - Volta
Data: 28/09/2021 - 21h30
Local: Mineirão, Belo Horizonte (MG)
Público: 18.350
Árbitro: Wilmar Roldán (COL)
Gols: Eduardo Vargas aos 7' e Dudu aos 18' do 2º
Cartão amarelo: Nathan Silva, Marcos Rocha, Luan, Felipe Melo e Abel Ferreira

ATLÉTICO/MG: Éverson (6,5); Mariano (6), Nathan Silva (4,5), Junior Alonso (5,5) e Guilherme Arana (5,5); Allan (6) (Tchê Tchê, sem nota), Jair (6,5) (Savarino, 5,5), Zaracho (5) (Eduardo Sasha, sem nota) e Nacho Fernández (C) (5) (Réver, sem nota); Hulk (5) e Eduardo Vargas (5,5). Técnico: Cuca (5,5).

PALMEIRAS: Weverton (7); Marcos Rocha (6,5) (Gabriel Menino, 6), Luan (4,5), Gustavo Gómez (6,5), Renan (6) e Piquerez (7); Felipe Melo (C) (7), Danilo (6,5) e Raphael Veiga (5,5) (Wesley, sem nota); Dudu (6) (Zé Rafael, sem nota) e Rony (5) (Gabriel Veron, 7,5). Técnico: Abel Ferreira (7).

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