O TRI É VERDE

    27 de novembro de 2021. Na batalha pelo tri da Libertadores entre Palmeiras e Flamengo, melhor para o time alviverde, que venceu com um gol na prorrogação e faturou sua terceira taça da competição, a segunda consecutiva e no mesmo ano. A vitória por 2 a 1 premia um dos gigantes do futebol brasileiro, dono de um trabalho estruturado dentro e fora de campo, e um grande treinador, que em pouco mais de um ano na América do Sul, vai fazendo cada vez mais história. O Palmeiras é tri, e agora junta-se a Grêmio, São Paulo e Santos no seleto grupo de clubes brasileiros com três títulos da competição. É mesmo gigante.

    Com um time concentrado e sabedor do que fazer desde os primeiros minutos, o que certamente foi trabalhado muito bem pelo ótimo técnico Abel Ferreira, o Palmeiras foi muito aplicado taticamente, entrando no gramado do Estádio Centenário com uma formação nova, em uma espécie de 5-4-1. Sem Marcos Rocha suspenso, Abel Ferreira optou por colocar Mayke como um ala-direita, ao passo que Gustavo Scarpa entrou pelo lado esquerdo, funcionando mais como um lateral do que como um ala/meia. Já na zaga, Piquerez jogou como um zagueiro pela esquerda, poucas vezes avançando com a profundidade de um lateral. Essa formação, somada a uma grande incapacidade do Flamengo, principalmente no primeiro tempo, foi quem favoreceu ao verde sair na frente no placar.

    Logo com 6 minutos, Gustavo Gómez achou Mayke em um belo lançamento na direita, nas costas de Filipe Luís e Bruno Henrique, e o camisa 12 só tocou rasteiro para Raphael Veiga, na marca do pênalti, bater no canto esquerdo de Diego Alves. Foi um erro coletivo do rubro-negro, já que o lado esquerdo estava desorganizado na hora do lançamento, pois Filipe Luís e Bruno Henrique estavam fora de posição, e ninguém manteve o encaixe individual na marcação da entrada da área. Para completar, mesmo no contrapé de Diego Alves, a finalização era defensável, pois a bola passou por baixo do goleiro. Com esse show de erros logo de cara, o Palmeiras teve o jogo à sua feição para o restante do primeiro tempo.

    Nos primeiros 45 minutos, o Flamengo praticamente não existiu. Pouquíssimo inspirado, o time de Renato Gaúcho criou pouquíssimo, não conseguindo converter os 65% de posse de bola em perigo efetivo. Na sua única chance que merece algum tipo de lembrança, Bruno Henrique escorou para Arrascaeta um cruzamento de Gabigol, mas o uruguaio bateu em cima do goleiro Weverton. Faltou criação, pois só Arrascaeta, visivelmente descontado, aparecia para o jogo, enquanto Éverton Ribeiro pouco aparecia e Bruno Henrique não conseguia fazer sua típica jogada de velocidade pela esquerda. Talvez um Michael ou um Vitinho no lugar de Éverton fosse a mexida ideal para o segundo tempo.

    Sem mudanças, o Flamengo até voltou melhor para a segunda etapa, com um ritmo mais objetivo. Vieram algumas chances, mas nada da bola entrar, seja esbarrando em Weverton, seja passando perto do gol. Por sua vez, o Palmeiras tentava responder, mas seu jogo era muito mais defensivo, ancorado no contra-ataque. Até que, aos 27 minutos, Gabigol e Arrascaeta fizeram boa trama pela esquerda e o camisa 9 invadiu a área, batendo forte, certeiro, entre Weverton e trave. Era o gol do empate, o gol do desafogo para deixar o jogo novamente em equilíbrio. No restante do segundo tempo, o Flamengo permaneceu em cima e teve sua cota de gol perdido preenchida: aos 40, Michael, que havia entrado na vaga de Éverton Ribeiro, recebeu um lançamento na área e já dominou passando por Piquerez. No entanto, na hora de fazer, bateu cruzado, errado, e a bola passou tirando tinta da trave direita. Era o gol da virada, mas a chance escapou.

    Com a igualdade no placar, veio a prorrogação. Dois tempos de 15, coisa que considero desnecessária no futebol, pois normalmente as prorrogações costumam ser sem emoção, como se os clubes esperassem pelos pênaltis. No entanto, ela seria muito feliz para o lado do Palmeiras. E foi justamente na prorrogação que Renato Gaúcho cometeu seus maiores erros, comprometendo o desempenho ofensivo do time. O primeiro e gritante equívoco foi a entrada do permanentemente fora de forma Kenedy na vaga de Bruno Henrique. Não que o camisa 27 estivesse bem, mas o ponta ex-Fluminense de maneira nenhuma era o mais indicado a entrar. Vitinho, que vem de dois grandes jogos contra Inter e Grêmio, seria a melhor opção, talvez até Rodinei. Kenedy não, definitivamente.

    Mas foi ele quem entrou, e não ajudou muito o Flamengo. Logo aos 5 minutos, quando as equipes ainda se estudavam, Andreas Pereira perdeu a bola de forma ridícula em uma saída de bola e Deyverson aproveitou, saindo na cara de Diego Alves para marcar o gol do título. Ele, tão cobrado e criticado pela torcida palmeirense, saiu do banco para dar a glória eterna ao Palmeiras, ente central do título em Montevidéu. Quem diria?

    Pelo outro lado, o Flamengo sentiu muito o gol, e não conseguiu criar nada para empatar. Somente no segundo tempo veio alguma coisa, mas muito mais na desorganização e no desespero do que em algo pensado. Foi só faltando 10 minutos para tudo acabar que Renato Gaúcho olhou para o banco e colocou Vitinho e Pedro, que já deveriam ter entrado há muito tempo. Mais uma vez faltou repertório ao nosso treinador, e o Palmeiras só esperou a chegada dos 120 minutos para garantir a taça. O tri era verde.

    Foi um título merecido, pois o Palmeiras tem mais conjunto que o Flamengo. Apesar de não ter a qualidade do time rubro-negro, o Palmeiras compensou na sua imensidão tática, tanto no ataque como na defesa. Abel Ferreira merece todos os créditos, pois ele sim é um técnico de verdade, estudioso e conhecedor do jogo. Renato Gaúcho, o falastrão, foi punido pela sua própria língua e por seus métodos "boleiros", digamos assim. Para vencer esse Palmeiras, é preciso muito mais que isso. 2021 foi o ano do Palmeiras.

Em tempo:

_ Arbitragem magistral de Néstor Pitana. Tranquilo e com um bom condicionamento físico, o árbitro argentino controlou muito bem o jogo, não dando margem para bate-boca, conversas atravessadas e confusão. Além disso, os próprios jogadores o respeitam, o que contribui para o espetáculo. Essa foi uma arbitragem digna do árbitro da última Copa do Mundo.

_ Enquanto escrevia este texto, saiu a notícia: Renato Gaúcho não é mais técnico do Flamengo. Antes tarde do que nunca, mas essa decisão já era pra ter sido tomada antes, quando o time foi eliminado da Copa do Brasil, ou ainda, não era nem para ele ter vindo.


PALMEIRAS 2x1 FLAMENGO
Copa Libertadores da América 2021 - Final
Data: 27/11/2021 - 17h
Local: Estádio Centenário, Montevidéu (URU)
Árbitro: Néstor Pitana (ARG)
Gols: Raphael Veiga aos 5' do 1º; Gabigol aos 27' do 2º; Deyverson aos 5' do 1º tempo da prorrogação
Cartão amarelo: Piquerez, Gustavo Gómez, Felipe Melo, Abel Ferreira, Rodrigo Caio, Gabigol e Arrascaeta

PALMEIRAS: Weverton (6); Mayke (7,5) (Gabriel Menino, 5,5), Gustavo Gómez (C) (6,5), Luan (6), Piquerez (6) (Felipe Melo, sem nota) e Gustavo Scarpa (5,5); Danilo (5,5) (Patrick de Paula, 5,5), Zé Rafael (5,5) (Danilo Barbosa, 6), Raphael Veiga (7) (Deyverson, 7,5) e Dudu (6) (Wesley, 5,5); Rony (5,5). Técnico: Abel Ferreira (7).

FLAMENGO: Diego Alves (4,5); Isla (5) (Matheuzinho, 5,5), Rodrigo Caio (5,5), David Luiz (6) e Filipe Luís (4,5) (Renê, 5,5); Willian Arão (5,5), Andreas Pereira (4) (Pedro, sem nota), Éverton Ribeiro (C) (4) (Michael, 5) e Arrascaeta (6,5) (Vitinho, sem nota); Bruno Henrique (5) (Kenedy, 4,5) e Gabigol (6,5). Técnico: Renato Gaúcho (4).




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