FALTOU GIRAR A FACA

    Como diz um grande comentarista brasileiro, "quando se tem a chance de se matar o adversário, você tem que girar a faca para que ele não possa reagir". Pois bem, foi mais ou menos isso que o Flamengo viveu no duelo de ontem da Supercopa do Brasil contra o Galo, pois deixou de aproveitar sua vantagem por 4 vezes na decisão por pênaltis e acabou dando o título ao adversário. Para continuar no terreno dos chavões, "quem não faz toma".

Afora isso, foi um jogaço de bola que há um tempo não víamos no futebol brasileiro. Flamengo e Atlético são duas equipes diferentes do ano passado, estão no início de novos trabalhos e apenas no começo de uma nova temporada, condição que com certeza afetou o fisico bem como o entrosamento dos jogadores. No entanto, o que vimos ontem foi um espetáculo, em que o equilibrado ditou as regras. Equilíbrio foi a palavra do jogo, e a interminável decisão por pênaltis demonstra bem isso.

Considerando todas essas variáveis, o Flamengo fez um bom primeiro tempo, ligeiramente superior ao que foi demonstrado pelo Galo, que até começou o jogo melhor. O time rubro-negro se postou bem, principalmente do meio pra frente, roubando a bola no meio-campo alvinegro e encontrando espaços, principalmente pelo lado direito com o endiabrado Rodinei. Também por aquele lado, Arrascaeta desfilava classe e elegância, como a jogada da primeira chance perigosa do jogo demonstra, mas Gabigol se enrolou na hora de concluir. Por sua vez, o Galo era perigoso quando encontrava brechas pelo lado direito da defesa do Flamengo, pois havia um espaço entre Rodinei e Fabrício Bruno. Keno e Arana conseguiam se dar bem por ali.

Depois de 20 minutos de muito equilíbrio, o Flamengo passou a ditar as ações do jogo, mandando na partida e levando mais perigo. Gabigol e Fabrício Bruno tiveram grandes chances, mas a bola insistia em não entrar. Até que, aos 42, quando vivia seu melhor momento no jogo, o Fla levou o primeiro gol, marcado por Nacho. Depois de chute de Arana rebatido por Hugo, a bola sobrou para o argentino estufar as redes. 1 a 0 e a confiança era toda do lado alvinegro.

Se o Flamengo foi bem no primeiro tempo, no segundo foi ainda melhor, principalmente nos primeiros 20 minutos. Com Gabi se movimentando bastante, Arrascaeta orquestrando as jogadas e João Gomes limpando os trilhos atrás, o time rubro-negro chegou ao empate aos 11 minutos com Gabigol. O centroavante pegou o rebote de uma linda defesa de Éverson em cabeçada de Bruno Henrique e decretou o empate.

Como um rolo compressor, o Flamengo seguiu em cima, buscando a virada. O 2 a 1 veio em um ótimo contra-ataque do time carioca, em que Lázaro deu um lindo passe para Bruno Henrique deixar Godín comendo poeira e tocar de cavadinha antes da chegada do goleiro Éverson. Era o gol do alívio, e como na disputa da Supercopa 2021 contra o Palmeiras, o Flamengo virava depois de sair perdendo. Parecia que tudo conspirava a favor naquele início de segundo tempo.

No entanto, foi aos 27 minutos que Paulo Sousa cometeu seu primeiro erro na partida, trocando o cansado Bruno Henrique por Diego. Entendo que o camisa 10 da Gávea poderia ser importante para segurar a bola e acalmar o jogo ao lado de Arrascaeta, mas o capitão não é mais o mesmo, pois não acerta os combates e muitas vezes prende demais a bola. Talvez a entrada de Marinho fosse mais adequada para manter a velocidade no contra-ataque do time rubro-negro, mas o próprio camisa 31 parece não estar agradando ao treinador português. Prova disso é que ele nem entrou.

Enquanto isso, poucos minutos depois, o Galo empatou de novo. Em cruzamento de Ademir (que acabara de entrar) na cabeça de Vargas (que também entrara há pouco), o chileno ajeitou para Hulk enganar Fabrício Bruno e marcar num balaço o gol do 2 a 2. A decisão da Supercopa estava viva de novo. Tentando reacender seu time para a reta final da partida, Paulo Sousa ainda optou pelas entradas de Vitinho, Matheuzinho e Léo Pereira, mas eles não conseguiram mudar o andamento da partida. Já pelo lado atleticano, o contestado Guga entrou só para bater pênaltis. Confirmado o 2 a 2, era isso mesmo que restava às duas equipes. Foi tanta emoção na marca da cal que temos que fazer um capítulo a parte sobre isso.

Tensão e emoção a 11 metros do paraíso

Nas cinco primeiras cobranças de cada lado, ambos os times acertaram, e o equilíbrio era visível. No entanto, se havia um goleiro que estava mais perto de defender alguma bola, esse era Hugo Souza, pois o arqueiro flamenguista acertou o canto em quase todas as cobranças e não defendeu por pouco. Éverson, por sua vez, não conseguia chegar nas batidas, saindo nem na foto como diziam os antigos. Em suma, o equilíbrio era geral.

Até que o Galo perdeu sua sexta cobrança, com Guga. Assim, a chance era toda do Flamengo de conseguir a vitória, mas Arão, encarregado da sexta batida, foi muito mal, chutando no meio do gol. Foi, como eu vi no Twitter, uma defesa de goleiro de botão. A partir daquele lance, começou a série de erros e acertos de cada lado, em que quando o Galo acertava, o Fla convertia também, ao passo que os erros atleticanos eram respondidos com erros ainda piores do rubro-negro carioca. Foi assim com Matheuzinho, Fabrício Bruno e Hugo Souza. Depois que todos os 11 jogadores bateram, foi a vez de voltar o ciclo: Hulk converteu a sua mais uma vez, mas Vitinho parou em Éverson. Estava confirmado assim o campeão da Supercopa do Brasil.

Em suma, foi um jogaço, de nível técnico muito alto e grande intensidade, o que é até espantoso para um início de temporada. Apesar da derrota, o Flamengo não chegou a jogar mal, sendo levemente superior a esse grande adversário que é o Atlético Mineiro. Então, nada de terra arrasada, pois a temporada promete ser boa se confiarmos no trabalho. Ao que parece, os jogadores têm confiança nele.

Em tempo:

_ O único grande erro de arbitragem do jogo foi a não marcação de um toque de mão de Nathan Silva em arrancada de Bruno Henrique no meio-campo. Fora isso, Anderson Daronco foi até bem, não marcando tantas faltas como se previa. Em 90 minutos de jogo, 25 faltas ocorreram.

_ Rodinei fazia uma muito boa partida pela ala-direita, mas o gol de empate alvinegro acabou saindo por ali em cruzamento nas suas costas. No entanto, esse não é um erro exclusivo do camisa 22, pois já aconteceu com outros jogadores em tempos recentes.


ATLÉTICO/MG 2x2 FLAMENGO - 8 a 7 nos pênaltis
Supercopa do Brasil 2022
Data: 20/02/2022 - 16h
Local: Arena Pantanal, Cuiabá (MT)
Árbitro: Anderson Daronco (RS)
Gols: Nacho Fernández aos 42' do 1º; Gabigol aos 11', Bruno Henrique aos 19' e Hulk aos 30' do 2º
Cartão amarelo: Nathan Silva, Mariano, Jair, Gabigol, João Gomes e David Luiz

ATLÉTICO/MG: Éverson (6); Mariano (5), Nathan Silva (5,5), Godín (5) e Guilherme Arana (6); Allan (5,5) (Guga, sem nota), Jair (6,5) e Nacho Fernández (7); Savarino (5,5) (Ademir, 6), Keno (6) (Vargas, 6) e Hulk (6,5). Técnico: Antonio Mohamed (6).

FLAMENGO: Hugo Souza (5); Fabrício Bruno (5,5), David Luiz (5) e Filipe Luís (7) (Léo Pereira, sem nota); Rodinei (6) (Matheuzinho, sem nota), Willian Arão (5), João Gomes (7) e Éverton Ribeiro (5,5) (Lázaro, 6); Arrascaeta (7,5) (Vitinho, sem nota) e Bruno Henrique (6) (Diego, 5,5); Gabigol (7). Técnico: Paulo Sousa (6).

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